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Jambolão e o Diabetes
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Jambolão e o Diabetes
Há
aproximadamente 2 meses recebi um e-mail de uma das
leitoras de minha coluna me perguntando se eu conhecia alguma coisa sobre o
Jambolão. Devido a uma série de afazeres, não a respondi naquela época e
decidi aproveitar o final do carnaval para fazer uma busca mais detalhada
sobre o assunto e tentar ver o que temos de evidência sobre este fruto. O Jambolão é
conhecido por uma grande variedade de nomes: jalão, kambol,
jambú, azeitona-do-nordeste,
ameixa roxa, murta, baga de freira, guapê, jambuí, azeitona-da-terra entre
outros. Entretanto, seu nome científico é Syzygium cumini, uma planta pertencente à família Mirtaceae. Em relação ao seu fruto, eles são do tipo baga
(extremamente parecidos com as azeitonas). Sua coloração, inicialmente
branca, torna-se vermelha e posteriormente preta, quando maduras. Sua semente
fica envolvida por uma polpa carnosa e comestível, doce, mas adstringente,
sendo agradável ao paladar. No Brasil, o fruto é geralmente consumido in
natura, porém esta fruta pode ser processada na forma de compotas, licores,
vinhos, vinagre, geléias, tortas, doces, entre
outras. As propriedades
medicinais do Jambolão não são atribuídas apenas ao seu fruto. Existem
relatos de inúmeras propriedades atribuídas também ao seu caule e as suas
folhas. Dentre estas propriedades, destacam-se ações antiinflamatórias
e carcinogênicas (caule) e antibacteriana, antiviral, antifúngica e
antialérgica (folhas). Logicamente,
estas propriedades são extremamente controversas. Quanto aos efeitos sobre os
níveis de glicose, encontramos relatos de que tanto o caule, o fruto e as
folhas teriam ações sobre o metabolismo da glicose. Mais interessante ainda,
parecem que alguns relatos destas ações têm mais de 100 anos, antes mesmo da
descoberta da insulina. Mas o que realmente temos de evidência científica? É interessante
observar que vários artigos científicos sobre o Jambolão foram escritos e
publicados por grupos brasileiros. Um dos principais grupos é o de Claudio
Coimbra Teixeira, do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e seus artigos foram publicados em algumas importantes
revistas científicas (ver Referências Bibliográficas). Existe uma
série de estudos, com resultados bem controversos, em modelos experimentais
(ratos e camundongos) sobre os efeitos do Jambolão. Vou comentar alguns deles
aqui. Além do grupo de Porto Alegre, um dos estudos foi publicado por um
grupo da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. Neste
estudo, os autores demonstraram que, após 7 dias de
tratamento de ratos com um extrato da Syzygium
cuminy, houve uma redução nos níveis de glicose dos
animais. Os autores
especulam que este efeito não seria por um efeito direto sobre a glicose, mas
um efeito sobre a diminuição no peso e na ingestão alimentar dos ratos. Outro
estudo, publicado por um grupo de pesquisadores da Índia, também demonstrou
um redução dos níveis da glicose de camundongos com algumas frações do Syzygium cuminy, mas também
considerou este achado um efeito indireto da quantidade de fibras presente no
preparado utilizado. Mais
recentemente, um estudo publicado por um grupo de pesquisadores do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade de Santa Maria demonstrou que o extrato do
Jambolão foi capaz de reduzir a glicemia em um modelo animal e inclusive
sugeriu um mecanismo para isso. Estes são apenas alguns dos estudos que
realmente demonstram os efeitos benéficos do Jambolão sobre a glicose. Vale
ressaltar, entretanto, que são sempre modelos animais. Existem apenas
alguns estudos em humanos. O primeiro estudo, publicado em 2000, avaliou os
efeitos do Chá de Folhas do Jambolão em indivíduos sadios e não conseguiu
demonstrar qualquer efeito sobre níveis de glicose. Em um segundo estudo, os
autores compararam três tipos diferentes de tratamento em paciente com
diabetes tipo 2: placebo, glibenclamida
(um conhecido medicamento para o tratamento do Diabetes) e o chá de folhas de
Syzygium cumini. Após 28 dias de
tratamento, os autores demonstraram que, enquanto que a glibenclamida
promoveu uma redução significativa sobre os níveis de glicose, o Chá de
folhas de Jambolão se comportou exatamente como o placebo; isto é, sem
qualquer efeito clínico significativo sobre os níveis de glicose. Finalmente, um
terceiro estudo, agora com 27 pacientes, também não demonstrou qualquer
efeito do Jambolão sobre a glicose de pacientes diabéticos. Estes achados
demonstram que, embora tenhamos uma série de efeitos benéficos demonstrados
em modelos animais, os resultados em humanos não parecem tão promissores. Se os efeitos
do Jambolão sobre a glicose são controversos, os mecanismos envolvidos são
mais ainda. Citei algumas das teorias nos parágrafos acima, mas, quando
revemos a literatura, diversos mecanismos são propostos por diferentes
autores, sem nenhum consenso específico. Os possíveis mecanismos de ação já
foram propostos: inibição da alimentação e perda de peso, inibição da
absorção de glicose, inibição de uma enzima responsável pelo metabolismo da
glicose, inibição da enzima amilase, etc... Em resumo, os
efeitos do Jambolão no tratamento do Diabetes ainda não foram completamente
elucidados. Embora existam relatos (alguns deles bem antigos) da eficácia
desta planta (do caule ao fruto), além de diversos resultados animadores em
estudos com modelos animais, os resultados em humanos são desapontadores. Além disso, os
mecanismos de ação permanecem indeterminados. Como outros produtos “Na boca
do Povo”, o Jambolão não deve ser utilizado de maneira isolada no tratamento
do Diabetes. É importante ressaltar que os estudos em animais não permitem
que os efeitos colaterais da medicação sejam estudados (embora os estudos em
humanos sugiram que existam alguns efeitos gastrointestinais) e que estes
efeitos precisam ser bem determinados em humanos para que sejam pesados os
riscos e os benefícios da medicação. Vamos esperar
que nos próximos anos sejam publicados novos
estudos, principalmente por todos os pesquisadores brasileiros que lidam com
esta linha de pesquisa, para que o efeito do Jambolão sobre a glicose possa
ser completamente elucidado. Referências Bibliográficas Vizzoto M & Fetter
MR. Jambolão: Um poderoso Oxidante. Download em 09 de Fevereiro de 2011 de: Teixeira CC e cols. Absence of antihyperglycemic
effect of jambolan in experimental and clinical
models. J Ethnopharmacol. 2000;71(1-2):343-7. Oliveira AC e cols. Effect of the extracts and
fractions of Baccharis trimera
and Syzygium cumini on glycaemia of diabetic and non-diabetic mice. J Ethnopharmacol. 2005;102(3):465-9. Teixeira CC e cols. The effect of Syzygium cumini (L.) skeels on post-prandial blood
glucose levels in non-diabetic rats and rats with streptozotocin-induced
diabetes mellitus. J Ethnopharmacol. 1997;56(3):209-13 Pandey M e cols. Hypoglycaemic effect of defatted seeds and water soluble fibre from the seeds of Syzygium
cumini (Linn.) skeels in alloxan diabetic rats. Indian J Exp Biol. 2002;40(10):1178-82. Teixeira CC e cols. The efficacy of folk medicines
in the management of type 2 diabetes mellitus: results of a randomized
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(L.) Skeels. J Clin Pharm Ther. 2006;31(1):1-5 Bopp A e cols. Syzygium cumini inhibits
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Syzygium cumini (L.)
SKEELS (Myrtaceae) against diabetes--125 years of
research. Pharmazie. 2008;63(2):91-101. Teixeira CC e cols. The efficacy of herbal medicines
in clinical models: the case of jambolan. J Ethnopharmacol.
2006;108(1):16-9. Dr. Rodrigo O. Moreira
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